terça-feira, dezembro 23, 2014

Um mundo perfeito...(?!)...

O mundo será mundo quando se render ao poder do amor divino
Não.. esta não é uma mensagem de Natal...
O mundo é bom, porém, imperfeito segundo a nossa concepção e condição de seres imperfeitos. Por isso, duvide dos discursos que desejam criar métodos para as virtudes, a virtude é querida, mas não há métodos para cultivá-la, há atos heroicos que as tornam concretas, e isto é realmente uma loucura segundo a nossa imperfeição, porém, muito querida por nós. 

A criação de possíveis métodos para a criação de um mundo perfeito parte de um racionalismo sem-vergonha, que vislumbra a criação de uma humanidade metodicamente virtuosa e isso faz com que se exclua também a caridade e a misericórdia é posta de lado na convivência... deixamos de ser uma raça humana, pois com isso, inevitavelmente colocamos a nossa humanidade debaixo do tapete. 

O mundo nunca se tornou melhor pelos métodos racionalmente sugeridos (inclusive, conseguiram tornar o mundo num lugar muito pior e de fato tenebroso... conforme experiências...), pelos governos que vislumbram colocar todos em uma mesma linha de existência, pelas leis puristas e excessivas que, apesar de parecerem algo metodicamente virtuoso, não se sustentam, pois exclui os atos de compaixão e misericórdia de nossos dias. Não me refiro a aplicação de punições aos erros, mas simplesmente da concepção de que virtudes se criam por meio de leis puristas, ideologias socialmente puritanas, excessivas e excessivamente falhas, por serem segundo a lógica, o caminho de uma humanidade perfeita. 

Estes dias comentei com não sei quem que achou estranho, não aprendemos a amar as pessoas pelas suas virtudes, isso no máximo nos é capaz de gerar admiração, mas aprendemos a amar as pessoas através de seus defeitos, naquilo que em nossa doação possa ser superado, suplantado, cuidado, transformado... 

O excesso de leis nos mata o espírito, definha a alma, aprisiona o bom senso, exclui a caridade... Se não estamos prontos a amar, se não estamos prontos a crer no heroísmo que requer as virtudes, estaremos prontos para vivermos num mundo miserável, uma espécie de clube que aceita somente pessoas ditas respeitáveis, sem misérias internas, desprovidos de erros, pecados... seres finitamente perfeitos... 

Deus nos amou sempre e ama a todos por igual, desde a criação, mas o que O fez em pensar em enviar o seu único Filho, destituído de sua condição divina, enviá-lo como um miserável no meio de miseráveis se não um chute no balde das leis excessivas, da fábula de um mundo perfeito segundo as regras, de um mundo quase bonito por fora e tosco e fosco por dentro que nós sempre criamos e recriamos? 

Foi pelas nossas deficiências que Jesus se fez um de nós, repito aqui o que já escrevi em outra feita, Ele veio fazer o que nós não gostaríamos, queríamos ou evitaríamos a fazer... Ele não nos informou quais as deficiências nossas seriam curadas e quais não seriam curadas... Ele simplesmente veio e reduziu tudo em amor (não vou dizer amor verdadeiro, pois se é amor é verdadeiro)... Ele esmagou o mundo caricato fundamentado nas metodologias criadoras de falsas virtudes, fechou as portas dos clubes dos perfeitos (que eram limitados demais para a grandeza para a qual Deus nos chamou...)... 

Jesus reduziu ao máximo as regras, constrangendo-nos com as nossas teorias virtualizantes, constrangeu-nos com os nossos criadouros de virtudes flácidas e pouco eficazes (poderiam ser eficazes se houvesse na prática amor e misericórdia, coisa excluída do mundo de pessoas respeitáveis...)

Santo Agostinho, pela grandeza que o Espírito Santo o iluminou, reduziria todas as minhas palavras em "Oh, feliz culpa que nos trouxeste tão grande salvador..." Deus nos amou desde a concepção da criação de seres para serem a sua imagem e semelhança, mas Deus se viu "obrigado" a amar-nos ainda mais pelas nossas deficiências e levar este amor às últimas consequências... por isso, eu preciso esquecer os métodos, eu preciso esquecer a compreensão dos mistérios que muitos livros teimaram em me "revelar" e acabaram por limitar o tamanho que é o mistério... aliás, infinito... 

Espero esquecer todas as regras que aprendi e me ater eternamente, em minha pobreza mendicante por um pouco de algo que não seja meu, amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a mim mesmo.... repetir isso até que fique gravado em minha cabeça dura e burra...

O mundo sofre por não amar suficientemente, e esquecemos que o mundo foi concebido por Deus à base da força do amor... na deficiência de amar planejamos, esquematizamos um mundo perfeito, quase sempre exteriormente, pois um mundo perfeito, com mais amor que parta de nós é realmente uma cruz mais pesada do que conceber um mundo exteriormente belo... as palavras que vislumbra um mundo melhor, quase sempre se esbarra na força do amor... o amor não deixa que a recriação de um mundo metodicamente perfeito e virtuoso seja plenificada... por isso a amor é ainda uma loucura incompreendida no mundo...

Ps. Pensando nisso, em escrever isso, me deparo com a mensagem de meu amigo Juliano Cizotti que resumiria tudo em uma dúzia de palavras...:

"A regra do amor é muito simples: ele nasce sem razão e se sustenta pela vontade. Ai de quem exige razões pra amar! Ai de quem quer que o amor nascido se sustente por inércia!"